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A Guerra de Stalin contra os Judeus - Parte 3

No dia seguinte à chegada em Minsk, Michoels telefonou para sua mulher e disse que estava perplexo por ter visto Feffer tomando o café da manhã no mesmo hotel onde se hospedara. À tarde, Michoels recebeu um telefonema para ir junto com o crítico Potapov ao encontro de Pomarenko, chefe comunista do local. Aquela seria a última vez em que Michoels foi visto vivo. No dia seguinte, dois corpos cobertos por sangue e neve foram encontrados nas imediações da estação ferroviária de Minsk. Tratava-se, sem dúvida, de um típico caso de atropelamento “bate e corre”, aliás, muito a gosto da polícia secreta soviética. Nos comunicados oficiais, Michoels tinha sido vítima de um acidente automobilístico. Vinte anos depois, o envolvimento direto de Stalin no assassinato de Michoels foi revelado pela filha do ditador, Svetlana, nas memórias que escreveu: “Um dia, na casa de campo do meu pai, eu pude ouvi-lo falando no telefone. Depois de prestar atenção por um bom tempo, ele encerrou a conversa dizendo: '...sim, foi um acidente causado por um automóvel'. Mas, ele não estava perguntando, estava sugerindo um acidente causado por um automóvel. Em seguida, virou-se para mim e disse: Michoels foi morto num acidente. Eu sabia da obsessão do meu pai de ver complôs sionistas por todas as partes. Não foi difícil perceber porque aquele crime lhe havia sido diretamente comunicado”. 

Agora se sabe que o propósito de Stalin era preparar um dossiê contra os dois mortos, que se estenderia ao Comitê AntiFascista, percebido como um perigoso aglomerado de judeus desprovido de controles externos. Além disso, o desaparecimento de Michoels com certeza determinaria a extinção do Goset, que recebeu o nome de seu grande inspirador. 

No dia 14 de janeiro, o editorial do jornal Pravda apontou Michoels como “um dos maiores atores de todos os tempos”. O texto cobriu-o de elogios e concluiu com revoltante cinismo: “A imagem deste grande e admirável artista soviético ficará para sempre em nossos corações”. Nem uma só palavra sobre as circunstâncias de sua morte. 

O corpo de Michoels foi trazido de Minsk para Moscou e levado ao laboratório forense do professor Boris Zbarsky, o mesmo perito que havia embalsamado os restos mortais de Lenin. Por experiência, Zbarsky logo percebeu que Michoels não havia sido atropelado, mas vítima de uma ação violenta de outra natureza. Ele aplicou porções de maquiagem em seu rosto, sobretudo para cobrir um extenso ferimento na têmpora esquerda. Ao término de sua tarefa, o professor Zbarsky, que era judeu, foi levado para um campo de internamento antes que pudesse fazer qualquer declaração. 

Milhares de pessoas se aglomeraram nas ruas de Moscou para acompanhar o funeral de Michoels. O primeiro elogio fúnebre foi lido por Ilya Ehrenburg, seguido por Peretz Markish, que declamou um poema especialmente escrito para a ocasião, no qual deixou perceber nas entrelinhas que o ator não havia sido vítima de um acidente e chegou a usar duas vezes a palavra crime, disfarçando-a ao comparar Michoels com os mártires do Holocausto. 

Foi extraordinária a coragem de Markish e ele decerto teve consciência do que aquelas palavras viriam a lhe custar. A nova orientação da trupe coube ao assistente de direção, Benjamin Zuskin. Com o passar do tempo, a viúva de Michoels foi percebendo que o nome do marido na marquise do teatro ficava cada vez menor, até sumir por completo. No início de setembro de 1948, Zuskin, muito agitado, bateu na porta de Natalia e pediu para dar um telefonema. Tinha medo de falar de sua própria casa.

Certificou-se, então, que não poderia unir-se à companhia teatral numa viagem profissional a Leningrado porque haviam-no obrigado a assinar um documento oficial no qual se comprometia a permanecer em Moscou. Dias depois, Zuskin foi chamado para ir a um hospital onde deveria receber tratamento contra a insônia embora não sofresse de insônia. No hospital, aplicaram-lhe uma injeção que o fez dormir e acordar na prisão de Lubyanka, onde ficou até que a trupe retornasse de Leningrado. No decorrer das semanas seguintes, os demais atores da companhia ficaram com tanto medo de tudo e de todos que deixaram de visitar o apartamento da viúva de Michoels, vigiado noite e dia por agentes da polícia. Ao mesmo tempo, os judeus de Moscou também ficaram com medo de comparecer aos espetáculos, assustados por uma caminhonete com vidros escurecidos sempre estacionada em frente à entrada do teatro. Em abril de 1949, um grupo de agentes comunicou aos atores e técnicos que a companhia estava dissolvida e que o melhor que tinham a fazer era arranjar outro emprego.

O ano de 1948 foi atribulado para Stalin. A Guerra Fria assumia contornos cada vez mais intensos. Outra expectativa importante era a implantação do Plano Marshall na Europa Ocidental. A Doutrina Truman concedia volumosa ajuda militar à Turquia e à Grécia para conter os avanços comunistas. Os americanos davam início à ponte aérea destinada a superar o bloqueio terrestre de Berlim. Na Iugoslávia, o líder Tito abandonava a centralidade de Moscou e seguia por um caminho independente. Em agosto, morreu em circunstâncias obscuras Andrei Jdanov, um de seus braços direitos.

No dia 15 de maio, Stalin reconheceu a independência do Estado de Israel, não porque amasse os judeus, ou os sionistas, ou o país que acabara de ser criado. Em termos de política externa pragmática interessava à União Soviética que os britânicos saíssem do Oriente Médio e existia a esperança de que ali pudesse florescer uma semente comunista em função da ideologia socialista do partido majoritário, comandado por Ben-Gurion, que assumiria o governo do estado judaico. 
Ademais, dentre os dezesseis componentes do primeiro gabinete israelense, oito ministros haviam nascido na Rússia, somando-se ao presidente Chaim Weizmann.