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A Guerra de Stalin contra os Judeus - Parte 2

Nessa conjuntura, o judeu mais proeminente foi Lazar Kaganovitch, responsável pela tristemente famosa “Fome Ucraniana”, que o historiador Sabag Montefiore classifica como uma das maiores tragédias da humanidade, a par do Holocausto nazista e do terror de Mao Tse Tung. Kaganovitch cumpriu com absoluta frieza as ordens de Stalin, em 1932, para impor a coletivização na Ucrânia. Naquela região do norte do Cáucaso os agricultores foram obrigados a entregar ao estado a maior parte de sua produção. Assim houve enorme carência de trigo e uma conseqüente devastação de seis a sete milhões de seres humanos consumidos pela fome.

Na verdade, a intenção de Stalin era erradicar o nacionalismo ucraniano, cuja elite abrigava centenas de ativistas judeus que foram mortos ou enviados para a Sibéria sob os olhos complacentes de Kaganovitch, também responsável pela chefia dos transportes ferroviários dos condenados ao exílio siberiano. Em síntese, um burocrata sem alma e sem caráter, partícipe de outras monstruosas tragédias que viriam a se abater sobre seus correligionários da União Soviética. Em 1940, consumando o pacto assinado entre Hitler e Stalin, a Polônia foi dividida. Coube à Alemanha ocupar a parte que abrigava o maior número de comunidades judaicas. Cerca de um milhão de judeus conseguiram fugir das tropas nazistas e chegaram ao território ocupado pela União Soviética. Ali foram presos e remetidos para a Ásia Central onde, pelo menos, sobreviveram ao Holocausto. Entretanto, o Kremlin disseminou o boato de que os judeus eram covardes e se recusavam a lutar na guerra. 

Os russos souberam das atrocidades nazistas desde o primeiro dia, mas nada fizeram para impedi-las e a imprensa soviética foi proibida de publicar qualquer notícia sobre este assunto, mesmo porque os ucranianos, apesar de submissos ao poder central de Moscou, se aliaram aos nazistas na execução de dezenas de massacres. Foi nessa atmosfera do conflito que a nata dos intelectuais judeus da União Soviética criou o Comitê Judaico AntiFascista, presidido por Solomon Michoels, grande ator e diretor do Teatro Judaico Estatal de Moscou, fundado em 1920 e tolerado pelas autoridades. De fato, era tal a celebridade de Michoels que, em 1943, ele foi autorizado a viajar para os Estados Unidos com outro escritor judeu, Itzik Feffer, incumbidos da missão de arrecadar fundos para o esforço de guerra soviético.

O Teatro Estatal, conhecido como Goset, tinha excepcional nível artístico e correspondia à intenção da propaganda soviética de mostrar ao mundo que os judeus gozavam de total liberdade de expressão e de atividades no país. Um dos pontos mais altos das encenações do Goset foi a tragédia “Rei Lear”, de Shakespeare, com Michoels no principal papel. O repertório da companhia também incluiu dramaturgos judeus como David Bergelson e M. Daniel, cujas peças invariavelmente se referiam com ardor à ideologia comunista. Outros textos eram desprovidos dessa característica, como “A Família Ovadis”, de Peretz Markish, e “Tevie, o Leiteiro”, de Scholem Aleichem, precursor do famoso musical da Broadway, 
“Um Violinista no Telhado”. 

Quando os alemães invadiram a Rússia, o Goset foi evacuado para a cidade de Tashkent, no Uzbequistão, onde alcançou grande sucesso com a peça “Olho por Olho”, escrita por Markish. Entretanto, depois da guerra, o clima político soviético tornou-se hostil à cultura judaica, em geral, e ao Goset, em particular.

O final da década de 1940 marcou o recrudescimento de um agressivo antissemitismo estimulado pelo Kremlin. Um ano antes do fechamento do Teatro Estatal, Michoels foi destituído da presidência do Comitê Judaico AntiFascista. Grande número de intelectuais judeus caiu em desgraça, mas Stalin manteve sob seu manto de proteção o escritor e dramaturgo Michail Bulgakov, os compositores Dmitri Shostakovitch e Sergei Prokopfiev, o escritor Boris Pasternak, o cineasta Sergei Eisenstein e o escritor e jornalista Ilya Ehrenburg, embora estes três últimos fossem judeus. Àquela altura, toda a produção artística e literária soviética obedecia às ordens de Andrei Jdanov, a quem competia avaliar e decidir o que, em qualquer das artes, era comunista e revolucionário ou burguês e contrarrevolucionário.

Em dezembro de 1947, Michoels e Feffer foram chamados ao Kremlin, sendo recebidos por Molotov e Kaganovitch, então vice-presidente do Conselho de Ministros. Os líderes comunistas instaram os visitantes a envidar esforços para reativar a região de Birobidjan, onde havia sido instalado um pretenso estado judaico (ver reportagem “O Falso Estado Judeu”, Morashá, no. 64). E fizeram outro pedido: que o Comitê Fascista endereçasse uma carta a Stalin, sugerindo a criação de um outro estado judeu na Crimeia. Foi uma sinistra armadilha de Stalin que se tornaria o “Caso da Crimeia”, segundo o qual quem favorecesse aquela intenção estaria cometendo um crime de traição separatista contra o governo.

Até os dias de hoje, as circunstâncias da morte de Michoels permanecem um mistério. No dia 11 de janeiro de 1948, ele e o crítico teatral Vladimir Potapov receberam ordens para viajar para a cidade de Minsk, onde deveriam assistir a representação de uma peça que, talvez, pudesse ser adicionada ao repertório do Goset. Antes de viajar, Michoels telefonou para Itzik Feffer e, embora não gostasse dele, pediu que este o substituísse na presidência do Comitê AntiFascista, tal como já havia acontecido em outras ocasiões.