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Cristãos da Síria com medo do futuro

Suspeitos de apoiarem o regime de Assad, tal como as outras minorias, olham com receio para os rebeldes, onde sobressaem grupos salafitas defensores de um Islão rigoroso. Assusta-os que a derrocada de um ditador laico se transforme numa tragédia para a comunidade, numa repetição possível do caos que se seguiu à queda de Saddam, no Iraque.
Os combates na Síria chegaram em agosto às imediações de Bab Touma e Bab Charqi, dois bairros cristãos de Damasco. Entretanto, também em áreas de Alepo habitadas por membros da comunidade cristã, como o bairro de Jdéidé, o conflito entre os rebeldes e o regime de Bashar al-Assad já se fez sentir, mostrando que ninguém consegue passar ao lado da guerra civil síria, por maior que seja o seu desejo de neutralidade.

Sendo apenas um décimo dos 22 milhões de habitantes do país árabe, os cristãos habituaram-se a manter-se à margem das grandes lutas pelo poder, como esta agora que começou em março de 2011 como mais uma exigência de democracia inspirada pela Primavera Árabe e se transformou, em grande medida, num desafio da maioria muçulmana sunita aos alauitas, corrente do xiismo que fornece o essencial da liderança política e militar do atual regime, incluindo o presidente Assad.

“As revoluções nunca nos trazem vantagens”, alertava há poucas semanas o metropolita siríaco de Alepo, monsenhor Yohana Ibrahim. Em declarações ao jornal francês ‘Le Figaro’, este responsável de uma dúzia de igrejas do país explicava que “a situação dos cristãos da Síria é um paradoxo. A nossa história é a de uma constante adaptação a situações perigosas, sobre as quais não temos qualquer poder[...]. 
O peso dos cristãos da Síria é tão fraco que sofremos há séculos a lei do mais forte[...]. A cada mudança de regime, perdemos tudo o que a geração anterior construiu”. 

É este medo do futuro que tem marcado toda a comunidade nestes 18 meses de conflito, e apesar de haver alguns cristãos nas fileiras da oposição, a comunidade é tida como pró-regime, agarrada até ao desespero à proteção que os Assad (Bashar e também o seu antecessor e pai Hafez) sempre deram às minorias. Em situação semelhante estão os drusos, mais uma corrente minoritária do Islão. Mas ao contrário das outras minorias, os cristãos não possuem um reduto onde se sintam protegidos. Muitos são citadinos, os restantes vivem em zonas rurais como o Vale dos Cristãos, perto de Homs, onde se situa o Crac des Chevaliers, castelo que relembra a passagem dos Cruzados pela Terra Santa.

O cristianismo na Síria remonta ao século I. Foi na estrada de Damasco que o futuro São Paulo se converteu e quando os conquistadores muçulmanos chegaram no século VII a região estava pejada de igrejas. Sob o califado dos Omíadas, Damasco tornou-se um dos centros do Islão e desde então a Síria teve sempre uma maioria de muçulmanos. 

Libertada do Império Otomano em 1918, a Síria esteve sob domínio francês até 1946. No novo país independente, muitos cristãos se destacaram, como Michel Aflak, campeão do panarabismo e fundador do Partido Baas, que é ainda o de Assad. E se Aflak acabou por morrer exilado no Iraque, onde Saddam Hussein liderava outro ramo do Baas, outros cristãos continuaram em lugares de destaque, como o ministro da Defesa nomeado pouco depois do início da insurreição, o general Dawoud Rahja. Apresentado pelo regime como exemplo da diversidade cultural, Rahja foi morto num atentado à bomba em julho.

Não se conhecem massacres de cristãos na guerra civil síria, apesar de relatos de expulsões, sobretudo em Homs, por parte de grupos salafitas que integram o chamado Exército Livre Sírio. Mas o passado recente do Médio Oriente assusta uma comunidade que viu como no vizinho Iraque a queda de Saddam, um ditador laico, trouxe violência contra os cristãos, com atentados até a igrejas. E que olha assustada também para o cerco no Egito aos coptas, que se sentem cada vez mais discriminados.

Tanto os líderes rebeldes como os Irmãos Muçulmanos, que se adivinha virem a liderar o país num pós-Assad, têm assegurado aos cristãos que a Síria continuará a ser pátria de todas as suas comunidades. Mas há também quem não esqueça que certas figuras cristãs, como o primaz da Igreja Siríaca Ortodoxa, Ignace Zakka Ier Iwas, tomou claramente o partido do regime ao declarar em fevereiro à agência russa Novosti que a revolta era “fomentada do exterior e não por membros da sociedade síria”. 

A realidade da relação com Assad é mais complexa. A imprensa francesa denunciou situações em que o regime queria distribuir armas aos cristãos para formarem uma milícia, com os jovens a recusarem. E há também relatos de repressão acrescida sempre que um rebelde se revela pertencer a uma das igrejas. 

Em vésperas da chegada de Bento XVI ao Líbano, vizinho da Síria e com 40% de cristãos, o patriarca da Igreja Maronita dizia ao jornal de Beirute ‘L’Orient- Le Jour’ que os cristãos da Síria não eram apegados ao poder mas sim à estabilidade. “Eles não estão ligados ao poder, mas têm medo do que possa vir a seguir”, disse monsenhor Béchara Rai. No Líbano, entre 14 e 16 de setembro, o Papa apelou à paz na Síria e à proteção dos cristãos árabes.

Fonte: Fátima Missionária