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Papa mantém silêncio sobre alegações de abusos sexuais na igreja católica da Alemanha

Alegações de abusos sexuais na Igreja Católica alemã continuam surgindo. Há quem questione o que o papa Bento 16 pode ter sabido a respeito de casos específicos de abusos, e o irmão dele, Georg Ratzinger, também está sendo alvo de críticas. Porém, até agora o papa mantém silêncio.

Georg Ratzinger foi absolvido das suas transgressões. De fato, o assunto parecia ter se esgotado – um problema que o colocou bem no centro da questão cada vez maior dos escândalos sexuais da igreja na Alemanha.

“No início, eu esbofeteei garotos algumas vezes”, disse Ratzinger, que durante décadas foi diretor do Regensburg Domspatzen, um dos mais renomados corais de garotos da Alemanha. Mas ele diz que abandonou essa prática em 1980, porque o Estado proibiu castigos físicos. Ele afirma que seguiu “estritamente” a nova lei.

Mas os ex-garotos de coral contam uma história diferente. Eles ainda sentem calafrios quando se lembram da severidade do reverendo – e da suas tendências violentas, mesmo que já se tenham passado anos desde aqueles acontecimentos.

“Ratzinger era extremamente colérico e mal-humorado durante os ensaios do coral”, diz Thomas Mayer, que foi aluno da escola de canto coral de 1988 a 1992. “Em vários ocasiões eu o vi tão furioso que ele jogava cadeiras contra o nosso grupo de cantores. Certa vez Ratzinger ficou tão colérico durante um ensaio do coral que a sua dentadura chegou a cair-lhe da boca”.

Ratzinger, 86, atualmente mora em um mosteiro e recusou-se a tecer comentários sobre o assunto. As explicações ficaram agora por conta do seu irmão mais novo, o papa Bento 16.

Na última sexta-feira, Bento 16 reuniu-se no Vaticano com o chefe da Conferência dos Bispos Alemães, Roberto Zollitsch, para conversar a respeito da violência e dos abusos sexuais cometidos por padres católicos na sua nativa Alemanha. Assim como o seu irmão mais velho, o papa gostaria que o mundo acreditasse que a igreja modificou a sua forma de agir. Benedito 16 e Zollitsch prometeram esclarecer os casos de abusos e auxiliar as vítimas.

Dúvidas quanto à sinceridade

Mas pouco após Zollitsch ter retornado à Alemanha, o papo viu-se assombrado pelo seu próprio passado como bispo de Munique e Freising. A sua ex-arquidiocese admitiu ao jornal diário alemão de centro-esquerda “Süddeutsche Zeitung” que um padre pedófilo foi readmitido em uma paróquia católica em Munique durante a administração de Ratzinger.

O que o papa sabe sobre o problema dos abusos sexuais a partir da sua experiência pessoal? E até que ponto a sua promessa de finalmente esclarecer as alegações de abusos é sincera?

É improvável que algum integrante do círculo interno de poder do Vaticano seja mais bem informado sobre os escândalos sexuais católicos do que Sua Santidade, o papa. Joseph Ratzinger foi o chefe da Congregação da Doutrina da Fé, formalmente conhecida como Inquisição. Os casos relatados de abusos iam parar automaticamente sobre a sua mesa de trabalho. Desde 2001, como o mais poderoso cardeal da igreja, e subsequentemente como papa, Ratzinger tem intensificado os esforços do Vaticano no sentido de esclarecer essa questão problemática.

Porém, os abusos sexuais na Igreja Católica continuaram gerando manchetes na imprensa regularmente. Primeiro houve uma série de escândalos nos Estados Unidos e na Irlanda. Agora, é raro que se passe um dia sem que surja na Alemanha uma história referente a mais alegações de abusos sexuais.

No final da semana passada, cerca de 200 supostas vítimas procuraram Ursula Raue, a advogada berlinense contratada pelos jesuítas para examinar os casos de abusos – e as queixas que surgem dizem respeito a todas as áreas da igreja. Cerca de 150 pessoas relataram histórias de abuso no mosteiro-escola em Ettal, e aproximadamente 15 ex-garotos de coral apresentaram queixas relativas ao Regensburg Domspatzen.

A natureza complexa do problema

Além disso, houve queixas vindas de outras áreas da sociedade. Os casos emergiram de praticamente todas as partes: da igreja protestante, das administrações de escolas seculares como a Odenwaldschule e de internatos de crianças na ex-Alemanha Oriental. Os números ainda estão distantes daqueles vinculados à Igreja Católica, mas eles revelam a natureza complexa do problema.

Este é um tipo de escândalo que a sociedade alemã não via há anos, e provavelmente serão necessários meses para que ele desapareça. Entretanto, ele tem sido abordado inadequadamente – muitas vezes de forma chocante.

Isto se aplica à Igreja Católica, que continua causando estragos a si própria ao hesitar entre as medidas para esclarecer os casos de abusos sexuais e o impulso de ocultar os fatos. Mas é algo que aplica-se também ao Estado, já que os membros do governo deixam que a situação siga o seu próprio curso ou apresentam as últimas iniciativas inócuas.

Será que deveria haver discussões reservadas sobre o assunto envolvendo apenas os membros da Igreja Católica, ou tais reuniões deveriam envolver uma ampla gama de grupos sociais? Esta questão, por si só, monopolizou durante dias as atenções das ministras alemãs Kristina Schröder (Questões da Família), Annette Schavan (Educação e Pesquisa) e Sabine Leutheusser-Schnarrenberger (Justiça) – enquanto a chanceler Angela Merkel mantinha-se distante da polêmica. Um “debate amplo e intenso” é exigido como passo preliminar, afirmou o porta-voz de Merkel

Ao mesmo tempo, o sistema escolar alemão foi gravemente abalado. Ex-alunos da secular Odenwaldschule, no Estado alemão de Hesse, descreveram abusos sistemáticos que persistiram até pelo menos a década de noventa. Oito ex-professores, um dos quais lecionou na instituição até 2003, estão sendo alvo de acusações graves feitas por quase 40 ex-alunos.

Deitando garotos na cama

Um ex-aluno diz que só tinha permissão para telefonar para os pais duas vezes por semana – e, para fazer isso, ele tinha que usar o telefone do quarto de Gerold Becker. Becker foi o diretor da escola de 1971 a 1985. Quando o aluno ficava triste com o fim do telefonema, ele diz que Becker deitava-o na cama, despia-o, tocava os órgãos sexuais do garoto e, a seguir, se masturbava.

Um outro ex-aluno falou do seu medo de ser o último a ficar nos chuveiros com Becker após a aula de educação física. E um outro contou ter sido obrigado a fazer sexo oral. “Não havia como evitá-los”, diz Gerhard Roese, 48, que atualmente mora na cidade alemã de Darmstadt. Ele conta que foi repetidamente obrigado a estimular os órgãos sexuais do seu professor de música com a mão. Perturbado com os incidentes, o garoto contou tudo ao diretor da escola, mas este só “deu um sorriso forçado e balbuciou algumas palavras, além de falar algo sobre os gregos”, diz Roese.

Becker recusa-se a falar sobre as alegações. Mas as acusações também envolvem Hartmut von Hentig, 84, o decano do movimento da educação progressista na Alemanha – a amigo de longa data de Becker. Von Hentig diz que foi procurado por jornalistas durante vários dias. “Der Spiegel” só conseguiu fazer perguntas a ele por escrito – e ele respondeu por fax.

Na sua resposta, von Hentig fez advertências quanto a falsas alegações e frisou que, até o momento, “as declarações só foram colhidas; elas ainda não foram averiguadas”. Ele próprio visitou várias vezes a escola. Von Hentig não teria encontrado motivos para suspeitar de algo?

“Não”, respondeu ele. Quando pernoitava na Odenwaldschule, ele “geralmente” dormia no quarto oficial de hóspedes. “A única ocasião em que eu de fato vi Gerold Becker interagir com garotos e garotas na escola foi quando todos nós fazíamos as nossas refeições conjuntamente no refeitório ou quando caminhávamos pela escola. Nestas ocasiões, os alunos pulavam sobre ele, que se desviava de forma amigável, dizendo: 'Vocês não estão vendo que eu tenho uma visita?'”.

O papa de fato sabia?

Von Hentig não se culpa por não ter percebido nada. “É claro que eu observava constantemente e com bastante atenção: eu estava cheio de inveja deste homem que conseguia relacionar-se tão bem com as crianças, explicar coisas a elas, distrair a atenção dos alunos ou orientá-los pacientemente de forma a evitar que eles fizessem algo de errado. Cheio de inveja pela escola maravilhosa que ele tinha”.

Por que aqueles indivíduos que ocupavam postos de autoridade, incluindo supervisores e testemunhas, tendem a ter dificuldades em apurar as alegações, como ocorre no caso de von Hentig? Por que o Estado e a igreja são tão impotentes em se tratando da questão do abuso de menores?

Os irlandeses demonstraram ser possível romper a muralha do silêncio. Durante anos, Yvonne Murphy, uma juíza que atuou em nome do governo, dirigiu uma comissão independente que investigou como a Igreja Católica Apostólica Romana irlandesa lidou com as queixas de abusos sexuais de crianças por parte de clérigos.

O relatório dela, divulgado em novembro do ano passado, concluiu que “a ampla maioria dos padres prefere simplesmente fazer vistas grossas para os abusos”.

“Sem preocupação com as crianças vítimas de abusos”

A comissão descobriu também que a igreja não tomou medidas internas e ignorou as suas próprias regras relativas aos padres suspeitos de abusar sexualmente de crianças. “Durante vários anos os perpetradores não foram nem processados nem responsabilizados dentro da igreja”, diz o relatório, que cita “uma preocupação obsessiva com o secretismo” e conclui que “havia pouca ou nenhuma preocupação com o bem-estar das crianças vítimas de abusos”.

Na Alemanha, os governos federal e estaduais ainda estão preferindo deixar a investigação das alegações ao cargo dos bispos, apesar do fato de estes patriarcas da igreja não terem indicado que são genuinamente capazes de enfrentar o problema. Muitos líderes católicos veem os casos de abuso como episódios infelizes isolados – e não como um problema sistêmico.

Tal atitude despreza o fato de que este tem sido um problema para o clérigo desde o início – e no decorrer dos 2.000 anos de história da igreja. “ Quem provocar a queda de um só destes pequenos que creem em mim, melhor seria que lhe amarrassem ao pescoço uma pedra de moinho e o lançassem no fundo do mar”, está escrito no Evangelho de São Mateus. Nas suas Epístolas aos Coríntios , até São Paulo atacou os “garotos prostitutos” e “pederastas”.

No decorrer dos séculos, papas ameaçaram padres com punições caso estes abusassem sexualmente de crianças. “Tais membros do clero serão afastados do sacerdócio ou trancafiados para fazerem penitências em mosteiros”, escreveu o papa Alexandre Terceiro (1159 a 1181). Eles deverão ser “punidos segundo as leis da Igreja ou do Estado”, ameaçou o papa Leão 10 (1513 a 1521).

Apesar dessas condenações, os bispos atuais da Alemanha ainda tendem a fazer vistas grossas para os “pederastas” na igreja.

Vários obstáculos

Porém, é preciso reconhecer que o arcebispo Zollitsch nomeou recentemente o bispo de Trier, Stephan Ackermann, para investigar os casos de abuso. Ackermann recebeu prontamente uma quantidade enorme de telefonemas, cartas e e-mails de supostas vítimas. Mesmo assim, ele enfrenta vários obstáculos para poder iniciar o seu trabalho. A Conferência dos Bispos Alemães tem que primeiro decidir onde será o escritório dele – em Trier ou em Bonn? Com quantos funcionários ele poderá contar na sua equipe? Que tipo de equipamento estará à sua disposição? Qual será o tamanho do seu orçamento?

Bispos fundamentalistas como Gerhard Ludwig Müller, de Regensburg, preferem adotar uma abordagem mais inclinada ao confronto. Müller acusa “Der Spiegel” de “abusar da liberdade de imprensa” nas suas reportagens sobre a igreja, e afirma que a revista “é culpada de violar a dignidade humana de todos os padres católicos e membros da ordem”. Ele compara as atuais “campanhas anti-católicas da mídia contra o celibato e as morais sexuais católicas” ao “infame discurso do mestre da sedição proferido no Deutschlandhalle, em Berlim, em 1937” - uma referência ao ataque do ministro nazista da Propaganda, Joseph Goebbels, contra a igreja.

Em outras palavras, para Müller, as reportagens críticas sobre a questão são bem piores do que o espancamento, o estupro e a humilhação de crianças.

Enquanto isso, continuam surgindo novos relatos de abusos horrendos referentes à sua diocese – e especialmente ao Regensburg Domspatzen.

De 1953 a 1992, o monsenhor Hans Meier controlou com mão de ferro gerações de garotos de coral que estavam sob a sua tutela na Etterzhausen, uma escola preparatória para jovens pupilos, da qual o coral retirava os seus recrutas.

Os serviços religiosos eram realizados três vezes por dia. Depois disso, em filas duplas, os garotos caminhavam da igreja para o refeitório. Quando as cartas de correio eram distribuídas, os garotos eram obrigados a ficar alinhados segundo a série escolar, e muitas vezes eram duramente espancados.

“Nada que merecesse a minha atenção”

Christian Wilbrand começou a frequentar a escola aos nove anos de idade, em 1966. Ele recorda:

A ideia era quebrar as personalidades das crianças. A brutalidade e o nosso medo eram onipresentes. As torturas incluíam pancadas com varas de árvores nas pontas dos dedos e nas costas, socos na cabeça, puxões de cabelos e golpes aplicados com livros. Não demorava muito para acabar com a nossa infância. Eu sentia com frequência que estava a ponto de morrer. Certa vez o meu professor me empurrou com tanta força contra o quadro que eu desmaiei. A Etterzhausen era um universo de horrores.

Seria concebível que Georg Ratzinger nada soubesse sobre isso? Como diretor do coral da catedral, ele trabalhava com crianças a partir da quinta série, que na época moravam na escola em Regensburg. Ele diz: “Quando estávamos em viagens de concertos, os meninos me contavam como era a vida na Etterzhausen. Mas essas histórias não continham nada que me chamasse a atenção”.

Em 1971, quando Ratzinger já era diretor do coral havia sete anos, um padre local foi condenado a 11 meses de prisão por abuso sexual. O homem era o comissário de música da instituição e o chefe da escola. Georg Ratzinger tinha uma apartamento no prédio que abrigava a Domspatzen, e o seu irmão Joseph o visitava com frequência lá. Será que eles nunca ouviram nada sobre esse caso?

O ex-garoto de coral Mayer, que participou de várias viagens de concertos, diz que também testemunhou a violência sexual e física generalizada até deixar a escola em 1992. Ele conta que foi estuprado por alunos mais velhos. Mayer também alega que o sexo anal foi praticado entre estudantes em várias ocasiões em um apartamento da administração, ao lado das salas usadas para as aulas dos alunos mais velhos. “Eles simplesmente reproduziam a pressão de um sistema totalitário”, diz Mayer.

Suposta ignorância

A diocese de Regensburg recusou-se a fazer comentários sobre quaisquer alegações – e Georg Ratzinger também está atualmente em silêncio.

E quanto a Bento 16? Publicamente ele não emitiu uma só palavra sobre as alegações contra o seu irmão.

De fato, ele ainda se nega a comentar os casos ocorridos à época em que era arcebispo de Munique. O padre Peter H. atraiu pela primeira a atenção da diocese em Essen após ter obrigado um menino de 11 anos a fazer sexo oral. Ele foi mandado para Munique para submeter-se a terapia. Em 1980, um membro do Conselho da Diocese, Joseph Ratzinger, esteve envolvido na decisão de fornecer a Peter H. acomodação em uma hospedaria para clérigos.

Pouco tempo depois, o homem voltou às atividades pastorais, sem estar sujeito a qualquer restrição. Em 1986, um tribunal de Ebersberg condenou-o a 18 meses de prisão porque ele abusou novamente de um menor, desta vez na cidade bávara de Grafing.

Entretanto, H. foi reinstituído e celebrou serviços religiosos com crianças na Creche Coração de Jesus, em Garching, e manteve vários contatos com menores.

Na sexta-feira passada ele iria à feira de turismo ITB, em Berlim, e participou da discussão sobre “Trilhas de Peregrinos, Igrejas de Aldeias e Férias Monásticas”. Na última hora H. cancelou esta programação.

“Permitir que H. voltasse à exercer funções pastorais foi um erro grave. Eu assumo toda a responsabilidade”, diz o ex-vigário-geral de Munique, Gerhard Gruber.

O papa supostamente não sabia de nada sobre o caso.

Tradução: UOL

Fonte: Der Spiegel